quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Uma reflexão

A incerteza é um sentimento freqüente na nossa vida. A incerteza sobre o que vestir hoje, sobre o que comprar de aniversário para aquela amiga, sobre o que comer, sobre o que escrever em uma carta... A dúvida sempre nos acompanhou, porém, em um certo momento, ela se torna uma companheira muito presente. É... vamos crescendo, envelhecendo, amadurecendo e, assim, perdendo a pureza. Uma pureza inocente de decisão que deixa tudo tão claro e tão certo. Passamos a racionalizar as situações que passamos. Desmontamos o dia à noite, quando nos deitamos para dormir, nos sentimos seguros quando racionalizamos. Quanto menos nos excedemos mais a salvo estamos. Comedidos, racionais e “maduros” nos sentimos adultos.
Nós, seres comedidos, conhecemos outros seres comedidos, outros racionais e muitos maduros. Fazemos amizades, saímos para comer um cachorro-quente, vamos ao cinema e depois conversamos, sobre os mais variados temas e questões filosóficas. Tornamos-nos interessantes e, de repente, nossa opinião parece importar
Tornamo-nos arquivos vivos das mais variadas informações, as associamos à nossa maneira e depois vomitamos no primeiro desavisado provocador. Ficamos inteligentes. As pessoas ao nosso redor começam a parecer densas, indecifráveis, inatingíveis... Não percebemos que na verdade somos nós que nos fechamos e nos cobrimos com a névoa da dúvida, da racionalidade. A vida parece tão difícil. Conviver é difícil, se torna um exercício diário e os encontros marcados, por mais casuais que sejam. Os relacionamentos só seguem a trilha da frustração e a culpa, por mais que tentemos acreditar na nossa antítese, síntese, tese, é só nossa, pois não nos doamos o suficiente, não nos despimos da maldita vestimenta, da maturidade, da razão e do comedimento que insiste em nos acompanhar. Psicólogos de final de semana, analisamos todos que nos parecem diferentes e todos parecem quebrados, tortos. A vida fica um pouco torta... De repente caímos na real: não passamos de crianças tentando não ser crianças.
Entramos, então, no labirinto da contradição, tentamos ser algo que sabemos que não somos tentando assim ser o que desejamos ser. Tudo é tão complicado! O que é importante? O que não é importante? O que é certo? O que é errado? 
A confusão parece não ter fim e alguns de nós escapam: uns rezam, outros param de rezar, uns ainda lêem Nietzsche, outros tentam simplesmente ignorar, uns criam regras, outros queimam as regras, uns não conseguem se encontrar, outros se casam e têm filhos. Porém, quando menos esperamos, contra tudo e contra todos, conhecemos alguém que nos mostra que nada disso importa. Uma pessoa simples, com atitudes simples, sinceras, verdadeiras, e que, assim, nos torna simples. Retira-nos de toda a incapacidade que a “maturidade” implica e nos devolve um pouco da pureza. A leveza, a paz de espírito, o segredo secreto, a crença, o certo, o errado, o possível, a emoção, a alegria, a verdade, a expressão, a lágrima, a compreensão, a amizade, o amor em toda sua plenitude...

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