domingo, 14 de novembro de 2010

Para você

Os seus olhos negros de vontade...
os olhos negros...
seu perfume de folhagem
de relva...
seu suspiro...

Caminho ao seu lado.

Ao seu lado é melhor.

A fumaça de cigarro
dava caminho ao vento.
Os faróis...
O sinal vermelho...
Os quase ladrões...
Os óculos no chão...
O riso...

Ao seu lado é melhor.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Paulatinamente

Tudo bem...
O jogo está empatado
E meu verbo é furado
Perto de você

Tudo bem...
O passado importa
E eu faço de conta
Que está tudo bem.

Não está tudo bem.
Os homens vão à lua.
As mulheres votam.
As crianças têm computadores.
Os velhos se encontram no facebook.
E a propriedade privada ainda não se estendeu aos corpos (talvez sim... mas não no meu caso).

Paulatinamente...
Vamos construindo
Talvez seja grande
Talvez se torne o maior
Talvez seja maior que eu e você
Mas é preciso tempo
É preciso compreender
É preciso exorcizar os fantasmas
É preciso ser melhor.

Uma reflexão

A incerteza é um sentimento freqüente na nossa vida. A incerteza sobre o que vestir hoje, sobre o que comprar de aniversário para aquela amiga, sobre o que comer, sobre o que escrever em uma carta... A dúvida sempre nos acompanhou, porém, em um certo momento, ela se torna uma companheira muito presente. É... vamos crescendo, envelhecendo, amadurecendo e, assim, perdendo a pureza. Uma pureza inocente de decisão que deixa tudo tão claro e tão certo. Passamos a racionalizar as situações que passamos. Desmontamos o dia à noite, quando nos deitamos para dormir, nos sentimos seguros quando racionalizamos. Quanto menos nos excedemos mais a salvo estamos. Comedidos, racionais e “maduros” nos sentimos adultos.
Nós, seres comedidos, conhecemos outros seres comedidos, outros racionais e muitos maduros. Fazemos amizades, saímos para comer um cachorro-quente, vamos ao cinema e depois conversamos, sobre os mais variados temas e questões filosóficas. Tornamos-nos interessantes e, de repente, nossa opinião parece importar
Tornamo-nos arquivos vivos das mais variadas informações, as associamos à nossa maneira e depois vomitamos no primeiro desavisado provocador. Ficamos inteligentes. As pessoas ao nosso redor começam a parecer densas, indecifráveis, inatingíveis... Não percebemos que na verdade somos nós que nos fechamos e nos cobrimos com a névoa da dúvida, da racionalidade. A vida parece tão difícil. Conviver é difícil, se torna um exercício diário e os encontros marcados, por mais casuais que sejam. Os relacionamentos só seguem a trilha da frustração e a culpa, por mais que tentemos acreditar na nossa antítese, síntese, tese, é só nossa, pois não nos doamos o suficiente, não nos despimos da maldita vestimenta, da maturidade, da razão e do comedimento que insiste em nos acompanhar. Psicólogos de final de semana, analisamos todos que nos parecem diferentes e todos parecem quebrados, tortos. A vida fica um pouco torta... De repente caímos na real: não passamos de crianças tentando não ser crianças.
Entramos, então, no labirinto da contradição, tentamos ser algo que sabemos que não somos tentando assim ser o que desejamos ser. Tudo é tão complicado! O que é importante? O que não é importante? O que é certo? O que é errado? 
A confusão parece não ter fim e alguns de nós escapam: uns rezam, outros param de rezar, uns ainda lêem Nietzsche, outros tentam simplesmente ignorar, uns criam regras, outros queimam as regras, uns não conseguem se encontrar, outros se casam e têm filhos. Porém, quando menos esperamos, contra tudo e contra todos, conhecemos alguém que nos mostra que nada disso importa. Uma pessoa simples, com atitudes simples, sinceras, verdadeiras, e que, assim, nos torna simples. Retira-nos de toda a incapacidade que a “maturidade” implica e nos devolve um pouco da pureza. A leveza, a paz de espírito, o segredo secreto, a crença, o certo, o errado, o possível, a emoção, a alegria, a verdade, a expressão, a lágrima, a compreensão, a amizade, o amor em toda sua plenitude...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dias pares

O desasjuste...
O sufoco
A vontade
É tudo tão difícil
É tudo tão caro
O abraço
O perdão
A felicidade
Raridades do mundo moderno.

O chocolate é barato
O café é barato
A cocaína é barata
A cerveja é barata
1,50...
?????

Talvez seja por isso!
Agora tudo faz sentido...
Bebida nos dias pares
Só nos pares.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Uma carta

Da janela desse ônibua vejo as estrelas. O céu está tão bonito. Tudo tão calmo. Vejo uma estrela, parece me seguir...será você? Estava em casa, vivendo. Esperava vê-lo daqui a duas semanas e ouvir suas histórias. Suas histórias antigas de gente que nem existe mais. A vida é tão frágil...
Estava longe...não me despedi.
Nós já brigamos tanto. Lembro-me quando escondi seus óculos, quando você ia me salvar do monstro nas minhas noites de medo na fazenda, quando escondi suas ferramentas... eu não era fácil e nem você. Lembro dos passeios, da igreja, das músicas, das balas, dos seus amigos velhos, dos bombons e dos parentes distantes que você insistia que eu pedisse "bença". É tanta coisa. É minha vida inteira.
Fiquei sabendo que você sentiu muita dor e que chorou. Não consigo imaginar. Sempre fui eu quem chorou. Fiquei sabendo também que você queria que eu estivesse lá. Eu não estava. Estou segurando aquela correntinha de ouro que você me deu: "a água do Jordão e a terra de Jerusalém".
Estou indo ao seu encontro, sentir sua mão fria, me despedir.
Não consigo pensar onde você está, o que existe depois...não consigo imaginar. Quero acreditar que você ainda existe e que esteja bem. Eu só espero que você nunca mais sinta dor.
Eu te amo muito e nunca te esquecerei.

domingo, 22 de agosto de 2010

A janela

Ela estava deitada na cama daquele hotel: calça jeans com zíper e botão abertos, blusa cavada e justa, vermelha. Usava os cabelos presos por causa do calor. Usava a pulseira. Estava entediada, no escuro-úmido, morno- produzido por aquela cortina que parecia improvisada. Eram 15 horas de um sábado.
A televisão estava ligada e exibia um programa qualquer, isso não importava. Nada lhe chamava a atenção. As vozes vindas da TV entravam na sua cabeça, sem sentido, eram um mantra. Olhava o nada. Não havia nada naquele quarto, só ela.
O silêncio. Agora a atmosfera parecia diferente naquele lugar, não era a mesma. as luzes eram vermelhas e na janela já não havia mais aquela cortina velha, em seu lugar havia um cortina grande, branca, leve. Ela brincava no sopro do vento, parecia dançar. Estava tudo tão limpo! Tudo tão claro!
Levantou-se e acendeu as luzes...eram vermelhas.Lembranças...o pecado!
Abriu os olhos! Fora um só um sonho ou qualquer coisa da espécie. Ainda estava naquela cama largada, a cortina ainda era velha, a televisão ligada e as luzes não eram vermelhas.
Levantou-se e acendeu as luzes...desligou a televisão e sentou-se a beira da cama.
Sentada naquela cama ouviu o silêncio. Ouviu o silêncio da cidade: carros, buzinas, motos, ônibus e pessoas vivendo. Isso a acalmou. Até começou a fitar aquela pulseira pela primeira vez... o vermelho...sangue.
Não havia mais o vermelho mas havia o odor e a memória de todos os acontecimentos. Aquele objeto, ridículo, que ela não conseguia se desfazer, era testemunha daquela insensatez que cometera, ou melhor, não cometera... quem sabe?
A luz penetrava em seus olhos e os feriam. Ela tentava protegê-los com as mãos. Não queria se levantar novamente. Estava com uma enxaqueca infernal. Parecia que sua ação de levantar-se e depois sentar-se a beira da cama havia desencadeado a dor. Não conseguia pensar em mais nada.
Ficou lá por uma meia hora. Nada acontecia. E ela nada fazia. O cão latiu e despertou-a daquela inutilidade. A fez lembrar do que deveria esquecer. Tormento! Os olhos vidraram na pulseira. Não havia solução. Ela tirara a pulseira mas ainda estava lá... ainda estava...para sempre. Desespero!
"Como a vida pode ser tão cruel? Não havia como evitar! Era tudo tão necessário." O choro era iminente.A dor no peito doía como facada. Ela não se conteve. Deitou-se e chorou. Chorou por mim, por você e por alguém que não conhecemos. Ela chorou pela novela. Chorou pela megassena que não ganhou. Chorou pela irmã que não vê há muito tempo. Chorou pelos mortos. Chorou pelo dinheiro curto. Chorou pelos amores perdidos. Chorou pela doença que não pode curar. Chorou por não ter ninguém por perto. Chorou por ter julgado. Chorou porque não se perdoa. Sentiu raiva. A vaidade a fez olhar no espelho. Queria ver as lágrimas.
Analisando seu rosto inchado, molhado e seus olhos vermelhos se sentia ridícula. A realidade a chamava. Precisava voltar para casa.
Pegou sua bolsa. Saiu daquele quarto velho. Desceu três andares. Pagou o hotel. Tomou um ônibus e foi enfrentar aquilo que mais detestava: aquelas pessoas. Não que quisesse viver sozinha mas não suportava os desconhecidos. Suas histórias pelas metades nos ônibus. Seus cavalheirismos desmerecidos. Seus empurrões. Seu barulho. Chegou em casa. Alívio!
Ainda estava na porta, procurava a chave que insistia em desaparecer naqueles momentos... sempre! Sentiu uma mão em seu ombro. Congelou. Não se movia. Era apenas a vizinha. Vinha lhe falar sobre a uns produtos de beleza que vendia. "Tá...tá... muito obrigada por ter me avisado! Depois passo lá na sua casa ou te ligo. É! Depois te ligo.Tchau." Achara a chave. " Preciso ir... tenho um trabalho pra fazer. Depois a gente se fala mais." Liberdade! Desvencilhou-se dos tentáculos daquela velha marqueteira. Entrou correndo em casa e fechou a porta. Jogou-se no sofá. >>>>>>>>>>>>>>>>>mais tarde posto o resto...