domingo, 22 de agosto de 2010

A janela

Ela estava deitada na cama daquele hotel: calça jeans com zíper e botão abertos, blusa cavada e justa, vermelha. Usava os cabelos presos por causa do calor. Usava a pulseira. Estava entediada, no escuro-úmido, morno- produzido por aquela cortina que parecia improvisada. Eram 15 horas de um sábado.
A televisão estava ligada e exibia um programa qualquer, isso não importava. Nada lhe chamava a atenção. As vozes vindas da TV entravam na sua cabeça, sem sentido, eram um mantra. Olhava o nada. Não havia nada naquele quarto, só ela.
O silêncio. Agora a atmosfera parecia diferente naquele lugar, não era a mesma. as luzes eram vermelhas e na janela já não havia mais aquela cortina velha, em seu lugar havia um cortina grande, branca, leve. Ela brincava no sopro do vento, parecia dançar. Estava tudo tão limpo! Tudo tão claro!
Levantou-se e acendeu as luzes...eram vermelhas.Lembranças...o pecado!
Abriu os olhos! Fora um só um sonho ou qualquer coisa da espécie. Ainda estava naquela cama largada, a cortina ainda era velha, a televisão ligada e as luzes não eram vermelhas.
Levantou-se e acendeu as luzes...desligou a televisão e sentou-se a beira da cama.
Sentada naquela cama ouviu o silêncio. Ouviu o silêncio da cidade: carros, buzinas, motos, ônibus e pessoas vivendo. Isso a acalmou. Até começou a fitar aquela pulseira pela primeira vez... o vermelho...sangue.
Não havia mais o vermelho mas havia o odor e a memória de todos os acontecimentos. Aquele objeto, ridículo, que ela não conseguia se desfazer, era testemunha daquela insensatez que cometera, ou melhor, não cometera... quem sabe?
A luz penetrava em seus olhos e os feriam. Ela tentava protegê-los com as mãos. Não queria se levantar novamente. Estava com uma enxaqueca infernal. Parecia que sua ação de levantar-se e depois sentar-se a beira da cama havia desencadeado a dor. Não conseguia pensar em mais nada.
Ficou lá por uma meia hora. Nada acontecia. E ela nada fazia. O cão latiu e despertou-a daquela inutilidade. A fez lembrar do que deveria esquecer. Tormento! Os olhos vidraram na pulseira. Não havia solução. Ela tirara a pulseira mas ainda estava lá... ainda estava...para sempre. Desespero!
"Como a vida pode ser tão cruel? Não havia como evitar! Era tudo tão necessário." O choro era iminente.A dor no peito doía como facada. Ela não se conteve. Deitou-se e chorou. Chorou por mim, por você e por alguém que não conhecemos. Ela chorou pela novela. Chorou pela megassena que não ganhou. Chorou pela irmã que não vê há muito tempo. Chorou pelos mortos. Chorou pelo dinheiro curto. Chorou pelos amores perdidos. Chorou pela doença que não pode curar. Chorou por não ter ninguém por perto. Chorou por ter julgado. Chorou porque não se perdoa. Sentiu raiva. A vaidade a fez olhar no espelho. Queria ver as lágrimas.
Analisando seu rosto inchado, molhado e seus olhos vermelhos se sentia ridícula. A realidade a chamava. Precisava voltar para casa.
Pegou sua bolsa. Saiu daquele quarto velho. Desceu três andares. Pagou o hotel. Tomou um ônibus e foi enfrentar aquilo que mais detestava: aquelas pessoas. Não que quisesse viver sozinha mas não suportava os desconhecidos. Suas histórias pelas metades nos ônibus. Seus cavalheirismos desmerecidos. Seus empurrões. Seu barulho. Chegou em casa. Alívio!
Ainda estava na porta, procurava a chave que insistia em desaparecer naqueles momentos... sempre! Sentiu uma mão em seu ombro. Congelou. Não se movia. Era apenas a vizinha. Vinha lhe falar sobre a uns produtos de beleza que vendia. "Tá...tá... muito obrigada por ter me avisado! Depois passo lá na sua casa ou te ligo. É! Depois te ligo.Tchau." Achara a chave. " Preciso ir... tenho um trabalho pra fazer. Depois a gente se fala mais." Liberdade! Desvencilhou-se dos tentáculos daquela velha marqueteira. Entrou correndo em casa e fechou a porta. Jogou-se no sofá. >>>>>>>>>>>>>>>>>mais tarde posto o resto...

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